sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Ilusão do Aquífero Guarani

 

 Iniciou-se nas primeiras semanas de 2014 uma crise hídrica na Região Sudeste, em especial no estado de São Paulo.

  O volume do Sistema Cantareira, que abastece a capital paulista, registrou os menores valores de sua história.”

[Wikipédia]

 

 Uma das coisas que mais me surpreenderam nos debates sobre seca no Sudeste foi constatar que a história do Aquífero Guarani ser uma grande fonte de recursos hídricos não corresponde à realidade, é uma grande mentira que contaram pra mim desde o ensino fundamental.


  Fui entender isso ao pesquisar sobre petróleo para outra meditação.


  “O petróleo era conhecido já na antiguidade, devido a exsudações e afloramentos frequentes no Oriente Médio.
  No Antigo Testamento, é mencionado diversas vezes, e estudos arqueológicos demonstram que foi utilizado há quase seis mil anos.
  No início da era cristã, os árabes davam ao petróleo fins bélicos e de iluminação.
  O petróleo de Baku, no Azerbaijão, já era produzido em escala comercial, para os padrões da época,
quando Marco Polo viajou pelo norte da Pérsia, em 1271.” 
 [História do Petróleo]

  O petróleo era tão abundante que em certas regiões  podia pega-lo com um vasilhame na superfície da terra.
  Desconheço que isso ainda aconteça, sabe porquê?
  Quando tiramos petróleo do fundo da Terra não sobra o bastante para aflorar na superfície.

  Tirar água de qualquer aquífero é como tirar petróleo.
  Explico.
  Pense no aquífero como uma grande bacia d'água que  está cheia e transborda nos rios e lagos.
  Quando extraímos água da profundidade as lagoas deixam de se formar é como se você estivesse esvaziando a bacia.

  Com relação ao petróleo isso foi até solução, quem quer um líquido inflamável brotando em seu quintal?  (Claro, antes que fosse tão valorizado.)

  No caso da agua a situação é muito diferente, não só queremos rios e lagos como precisamos deles para viver.
  Se começarmos tirar água do aquífero em grande quantidade literalmente esvaziaremos rios e lagoas.
  O Estados Unidos tem usado muito esse recurso de tirar aguas subterrâneas o volume dos rios estão caindo drasticamente.
  É bom aprendermos com a tentativa e erro deles.

  Minha proposta de não deixar toda água doce dos rios se misturar com o mar me parece bem melhor que utilizar aquíferos em grande escala.
  Uns 10 quilômetros antes das águas chegarem ao mar poderíamos retirar pelo menos 50% e através de reservatórios e encanamentos fazê-la retornar para o interior.

  Há fartura de agua na região Sul, no caso de São Paulo os rios que desaguam no Rio Grande poderiam passar por intervenção semelhante...50% da vazão retornaria ao interior.

  Campinas está há 685 metros acima do nível do mar.
São Paulo está há 760 metros.

  A princípio parece loucura elevar a agua dos rios que desaguam no mar a uma altura de 800 metros para que a força da gravidade a distribua.
  Mas leia essa matéria:

  “O poço operado pela Casan, em São Miguel do Oeste, foi perfurado até o Aquífero Guarani e tem 1.276 metros de profundidade.
  Segundo o geólogo da Casan, Vitor Hugo Cereza, o maior problema para explorar esse aquífero na região é a profundidade de perfuração e a temperatura da água, que chega a 50ºC.
  “Os equipamentos para explorar essa água, que é resfriada e tratada antes de ser distribuída à população, também devem ser especiais, desde cabos de energia, tubulação e bomba submersa”, relata.” 
[Google]


  Parece muito elevar a água a 800 metros, mas para atingir a água do Aquífero Guarani precisamos de sondas de 1000 metros.
  Note que o processo não é simples nem barato.
  A princípio poderíamos bombear a água para um reservatório no morro mais próximo a força da gravidade faria o resto.

  Vamos "tentar" visualizar.

  Suponhamos que temos rios desaguando no oceano perto do Corcovado.

  Esse morro tem 710 metros de altura, se construíssemos um grande reservatório lá no alto e bombeássemos as águas para ele pela força da gravidade todas as cidades abaixo dessa altitude em teoria poderiam ser atendidas.

  Por favor, essa é uma exposição tosca, o esboço de uma ideia.
  É evidente que não tenho conhecimento suficiente de engenharia e estudos topográficos para constatar se é viável.
  E não, não estou propondo despejar o Cristo Redentor do morro...😊
  Só procurei um morro que todos conhecem.

  No Brasil cada cidade tem seu departamento de aguas e se vira como pode, acredito que esse amadorismo tem que acabar.
  O bom aproveitamento dos recursos hídricos agora é coisa para cachorro grande... ESTADO e UNIÃO.
  Não, nada de mais estatais.
  O Governo convoca técnicos que propõe projetos, escolhido o melhor projeto abre-se uma licitação para iniciativa privada.
  Claro que a iniciativa privada só vai se interessar se vislumbrar lucro.
   Cabe a sociedade garantir que o investidor tenha seu justo retorno.

 
   Já pensou se na foz do Rio Amazonas (ou outro rio qualquer) ao invés de deixarmos a agua doce se perder no mar  a canalizássemos e distribuíssemos por todo litoral?
  Tubulações enormes que acompanhariam a costa brasileira no fundo do mar.
  Essa agua chegando ao litoral, de obra em obra, poderia ser levada para o interior.

  “A Grande São Paulo, maior núcleo urbano do país, consome cerca de 60 metros cúbicos de água por segundo."

  "O Rio Amazonas nasce na cordilheira dos Andes, no Peru. Possui 6.868 km, sendo que 3.165 km estão em território brasileiro. 
  Sua vazão média é da ordem de 109.000 m³/s e 290.000 m³/s na estação de chuvas.”

  Observem que só do rio Amazonas são 109 mil metros cúbicos de agua simplesmente jogadas no mar, sem aproveitamento.
  Até um alienígena mais burrinho não entenderia porque falta agua no Nordeste.
Planeta Água


  O importante nessa meditação é você perceber como eu percebi que essa história de explorar os recursos do Aquífero Guarani não resiste a LÓGICA.





PS:  Uma solução mais simples e barata é cada cidade construir reservatórios muito maiores com capacidade para abastecer a população por longuíssimos períodos de seca.
 Porem, no caso de uma grande mudança climática como alguns cientistas mais pessimistas advertem, apenas reservatórios grandes não serão suficientes.
  Para enchê-los é preciso chover.
  Se o volume de chuva que caía em um local começa a cair há centenas de quilômetros ... é mais fácil trazer a água de lá que mudar toda uma grande cidade.

  É bom termos projetos mais ousados, que não sejam um tiro no pé.
  Esvaziar aquíferos é tornar a superfície do planeta extremamente árida, com diminuição drástica de rios e lagoas.
  Essa lógica entra em sua mente?







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