“A vida só pode ser compreendida, olhando-se para trás; mas só pode ser vivida, olhando-se para frente.”
(Soren Kierkergaard)
Com 14 anos
obtive meu primeiro registro em carteira, era uma metalúrgica, trabalhava do
meio dia ás 22h00.
Ganhava por volta
de 1 salario mínimo.
Na pequena casa
no quintal da minha vó Tidi moravam eu, minha mãe e mais 5 irmãos.
O mais novo era o Michael, um bebê (pouco mais de 1 ano) com
hidrocefalia.
Nessa fase
especifica apenas eu estava trabalhando, evidente que o dinheiro não era suficiente
nem para nossas necessidades básicas.
Não tínhamos
gás há alguns dias.
Uma chuva muito
forte que caiu a noite molhou toda a madeira que havíamos apanhado para fazer
fogo ... até para fazer arroz estava complicado.
A situação era de
extrema penúria e desalento.
Minha mãe não
conseguia fazer faxinas, meu irmão doente exigia muitos cuidados.
Minha irmã mais
velha tinha apenas 16 anos.
Que dia triste!
Lá pelas 11 horas
peguei minhas coisas e fui para o trabalho, não tinha nada, não levei nem
marmita.
Minha mãe ficou de falar com minha vó para conseguir algum dinheiro pelo menos para comprar álcool e fazer uma porção de arroz.
(Nós estávamos sempre necessitados de tudo, minha mãe tinha uma compreensível
vergonha de pedir ainda mais, minha vó era pobre também.)
Não, a empresa não
dava refeição, mas eu conseguia ficar horas e horas sem comer, a fome não me
incomodava o que me destruía por dentro era deixar minha família naquela
situação.
É muito triste
quando um garoto de 14 anos tem vontade de morrer.
Andando para o
serviço a ideia do suicídio me visitou pela primeira vez, definitivamente não estava valendo a pena continuar vivo.
Ainda bem que chovia muito, disfarçava minhas lágrimas, nunca gostei de chorar, gostaria de ser duro como pedra, me esforço muito para isso.
Aqueles carros
passando eram um belo convite para a morte, porem precisava ser algo eficiente/definitivo, na avenida das Amoreiras passava ônibus e caminhões...
Mas só eu estava trabalhando como deixar minha família sem aquele dinheiro no fim do mês?
Nessa época eu
era católico, diante daquela dor tão insuportável comecei o rezar Ave Maria
repetidas vezes meio que implorando forças para aguentar mais aquele dia ou para efetivar o suicídio; uma das orações mais sentidas que já fiz em toda minha vida até os dias de
hoje.
“Ave Maria, cheia de graça o
Senhor é convosco, bendita sois vós entre as mulheres, bendito é o fruto do
vosso ventre, Jesus.
Santa Maria, mãe de Jesus,
rogai por nós, os pecadores, agora e na hora de nossa morte, Amém.”Ao virar a esquina, na Avenida Rio de Janeiro, deparei com um rolinho de dinheiro, nem acreditei no que estava vendo, não era muito, mas o suficiente para trazer um alento naquele dia tão desgraçado.
Corri nem sei
como para casa, era como se flutuasse de alegria, entreguei o dinheiro a minha
mãe, fui trabalhar feliz, alguém tinha me ouvido!?
Claro que não
penso que o dinheiro foi materializado ali, de certo na correria da chuva
alguém deve ter perdido.
Depois quando
melhorei um pouco de vida, nunca reclamava quando perdia algum dinheiro, torcia
para que alguém que necessitasse o encontrasse com as bênçãos de Maria.
Certa vez me deu
uma vontade louca de jogar 10 reais pela janela do carro, sei lá, joguei…
É, eu sei, tudo
pode não ter passado de uma incrível coincidência, mas a RAZÃO sempre dúvida
das coincidências…então…
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