Em seminário do PT
na Bahia, Lula lançou um enigma:
“Eu fico pensando
o que seria do Brasil se não fosse o MST".
A resposta me
brotou fácil, haveria mais prosperidade e paz no campo.
[Xico
Graziano]
Os padres que
estão no comando da Igreja Católica foram formados na década de 60 e 70 e
desenvolveram uma visão romântica do Comunismo, acreditavam no fim do
capitalismo e no sucesso da Teologia da Libertação.
Estava assistindo
a Século 21 (emissora católica), notei que há muitos padres jovens e a tendência
é o movimento carismático.
Os atuais “padres
shows” é que daqui algum tempo darão as cartas, a geração formada em 60 está
caminhando para o descanso eterno. 😊
A situação que
observamos é um resquício do passado, para algumas pessoas parece que o “muro”
nem foi derrubado, elas pararam no tempo.
A Igreja
Católica, por seu tamanho, sempre apresenta um retardo em relação a atualidade,
mas daqui alguns anos os padres
“socialistas” estarão mortos e os padres de “resultados” estarão no poder.
Oh! Glória a
Deus…
Entra na minha casa
Entra na minha vida
Mexe com minha estrutura
Sara todas as feridas
Faz um Milagre em mim.
A matéria do Estadão é muito interessante e
importante, achei melhor copiar, para não correr o risco do link ficar indisponível.
XICO GRAZIANO
06 Agosto 2013 |
02h15
O País
sem o MST
Noutro dia, em seminário do PT na Bahia, Lula
lançou um enigma:
"Eu fico
pensando o que seria o Brasil se não fosse o MST".
A resposta me brotou fácil, haveria mais
prosperidade e paz no campo.
Explico o porquê.
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra (MST) originou-se em 1979, motivado pela luta agrária dos colonos gaúchos
nos municípios de Ronda Alta e Sarandi.
O regime militar, que comandava o País na época,
tentou desmantelar, pelas mãos do famigerado coronel Curió, aquela inquietação
camponesa.
Ao contrário, porém, sustentado pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) e apoiado por líderes da oposição democrática, o episódio
prosperou, agigantando-se o acampamento de sem-terra.
Cinco anos depois (1984), 8 mil pessoas
invadiram a Fazenda Annoni, demonstrando uma ousadia que, de pronto, ganhou a
simpatia da opinião pública.
O sucesso da empreitada guindou a nova
organização à liderança da ação "antilatifundiária" no campo.
Seu antípoda, criado no debate da
Constituinte, era a União Democrática Ruralista (UDR).
Seu rival "interno", de quem
procurou sempre se diferenciar, era a Confederação Nacional dos Trabalhadores
na Agricultura (Contag), considerada "pelega" pela esquerda de então.
A sociedade em mudança adotou
o MST.
Assim, no estrebuchar da ditadura, renascia
no País a tese da reforma agrária.
Agora,
porém, a causa vinha despida de sua lógica econômica, conforme fora idealizada
nos anos 1960, para se carregar de conteúdo social.
Com a bênção da Teologia da
Libertação, um pedaço de terra redimiria os excluídos do campo.
Nascia uma utopia agrária.
Ruíra em 1989 o Muro de Berlim.
Por aqui, findos os anos de chumbo, avançava
a redemocratização.
Simultaneamente, avançava a modernização
capitalista da agricultura, modificando a dinâmica do agro; antigos latifúndios
viravam empresas rurais.
Mais à frente, o Plano Real retirou da terra
ociosa seu ganho especulativo, empurrando-a para a produção.
Começava o império da
tecnologia na agropecuária brasileira.
Nesse caminhar da História, a bandeira
revolucionária do MST começou a perder seu brilho.
Foi então que a organização
decidiu, em 1995, mudar sua estratégia, partindo para o confronto direto com os
fazendeiros do País: invadiu a Fazenda Aliança, situada
em Pedra Preta (MT).
Pertencente a um conceituado líder ruralista,
a propriedade mantinha excelente rebanho, elevado rendimento, 29 casas de
alvenaria, 160 quilômetros de cercas, 21 empregados registrados, reserva
florestal intacta, um brinco produtivo.
Acabou nesse momento o MST "do
bem".
Inaugurando a fase ulterior da crise agrária,
as invasões de propriedades tomaram conta do Brasil, avançando especialmente
contra as pastagens de gado.
Incontáveis "movimentos" surgiram alhures,
arrebentando cercas, roubando gado, fazendo "justiça" com as próprias
mãos.
Verdadeiras quadrilhas disfarçaram-se de
pobres coitados e saquearam regiões, como no sul do Pará. Banditismo rural.
O MST militarizou-se.
Seus quadros passaram a fazer treinamento
centralizado, o comando definiu regras de comportamento e seleção.
Centros passaram a oferecer cursos de
capacitação, baseados na cartilha básica intitulada Como Organizar a Massa.
Doutrinação pura.
Nascido como "movimento social", o
MST transformou-se em rígida organização, adentrando a cidade.
Recrutando miseráveis
urbanos, montou uma "fábrica de sem-terra" no País.
Nunca mais a reforma agrária encontrou seu
eixo.
Como
teria sido a reforma agrária sem o terrorismo das invasões de terras?
Primeiro, seria certamente um programa mais
bem planejado, articulado, e não um remendo açodado para resolver conflitos.
Não trombaria com a agronomia nem com a
ecologia, projetando assentamentos tecnicamente viáveis.
Não faria da reforma agrária um foco de devastação
ambiental, conforme se verifica em toda a Amazônia.
Não confundiria remanescentes florestais com
terra inculta, promovendo uma infeliz união da miséria com a depredação
ecológica, como, entre tantos exemplos, provam a Fazenda Zabelê, no litoral de Touros
(RN), ou a Fazenda Araupel, em Rio Bonito do Iguaçu (PR).
Segundo, os beneficiários da reforma teriam
aptidão reconhecida para a lide rural, jovens habilitados, filhos de
agricultores familiares, jamais viriam dos excluídos da cidade.
O vestibular da terra seria a capacitação,
nunca a invasão.
Os assentamentos rurais estariam baseados na
produção tecnológica, integrada ao circuito de mercado, nunca firmada na roça
de subsistência, isolada.
Os novos produtores se emancipariam, seriam
titulados, e não, como ocorre hoje, se tornariam subservientes ao poder.
Terceiro, e em decorrência dos anteriores, a
reforma agrária seria menor em tamanho, porém muito maior em qualidade.
Geraria produção e renda.
Daria à sociedade retorno do investimento
público.
Hoje, acreditem, nem se avalia o
custo-benefício dos assentamentos.
Nunca se mediu sequer a produção agropecuária
advinda das áreas reformadas no Brasil, que atingem 90 milhões de hectares,
envolvendo 1,2 milhão de assentados. Ninguém sabe quanto nem o que produzem.
Conclusão: O distributivismo agrário resultou
na mais onerosa e fracassada política social da História brasileira.
Para se ter uma ideia, o custo médio de cada
assentado beira os R$ 100 mil, valor que manteria uma família durante 13 anos
recebendo um salário mínimo mensal.
Com uma agravante, pelas mãos raivosas dos
invasores de terra se criou no País um foco contínuo de encrenca, antipatias,
inimizades.
O que seria do Brasil se não fosse o MST?
Respondo ao Lula, tranquilamente: mais
produtivo e fraterno no campo.
* XICO GRAZIANO É AGRÔNOMO, FOI SECRETÁRIO DE
AGRICULTURA E SECRETÁRIO DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO.
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