sábado, 11 de maio de 2013

Habito e Casamento

  “O casamento deve combater incessantemente um monstro que devora tudo: o hábito.”
[Balzac]

  Não sei porque tantos pensadores criaram esse PADRÃO para o casamento, essa verdadeira tirania do novo, do diferente.

   Acho injusto cobrar de minha esposa que cada dia ela seja uma mulher diferente e sempre para melhor.
  Diante desse pensamento de Balzac tantos textos gritam para sair que minha mente parece um salão de gafieira.
  Nesse momento vamos ao que gritou mais alto em minha mente...
 
NÃO GOSTO DE DIZER ADEUS.

   A primeira vez que me deparei com este sentimento foi no final da oitava série.
  Eu sairia do Geny Rodriguez e iria para o Vitor Meirelles.
  Era para ser um momento de grande alegria, passei de ano com boas notas, era o último dia de aula entravamos em férias, todos os alunos levantaram eufóricos de suas cadeiras e era o que eu também deveria fazer, este é o “padrão” ... mas que droga!
  Eu não entraria mais no Geny como aluno. 😩
  Aquelas memórias de 8 anos passavam em minha cabeça como um filme bom que eu não queria que acabasse.
  Era hora de dizer adeus.
  Da minha cadeira até o portão envelheci 80 anos pensando nos 8 que se passaram.
  Que dor!
  Uma página da minha vida estava sendo virada, mas era como se estivesse sendo arrancada, pois jamais voltaria ao Geny como aluno...

   Até hoje não gosto de dizer Adeus, saio meio que escondido dos lugares, ainda não aprendi a suportar essa dor de ter as páginas de minha vida arrancadas.

  Gosto da minha esposa como está.
  Claro que pela minha vontade ela ficaria tal qual “quando a conheci.”




  Acontece que o tempo passa para todo mundo.
  Passou para mim também.
  Não sou mais o mesmo, minha juventude está sendo arrancada de mim.

  Aceito o hábito/rotina no casamento até porque não tem como ser diferente.

  Já me habituei a dividir com a Mara o trato das crianças.
  Minha esposa não é parte da casa, a casa faz parte dela.
  Meu inimigo não é o hábito de estar perto dela, gosto do hábito, gosto da rotina, não há o que ser combatido.

  Não gosto de pensar que um dia minha esposa será arrancada de mim, um dia todos seremos inexoravelmente devorados, arrancados da vida, isto sim é meio que monstruoso, ainda mais se tiver um inferno no porvir (segundo algumas lendas) e não um abençoado esquecimento.

  Bom mesmo seria se reencontrássemos todas nossas páginas arrancadas organizadas em um belo livro, tão bonito quanto esperamos que a vida seja.

  Eu, minha esposa, nosso casamento, você leitor, todos nós seremos devorados pelo tempo, decifremos os enigmas ou não.
  Decifrar enigmas é bom, nos ajuda a enganar o tempo não transformando o agradável hábito de estar juntos em um culto ao sofrimento.

  O HÁBITO nos dá esta sensação de segurança, como se nosso pai, nossa mãe, nossos filhos, nossos amigos SEMPRE estarão conosco.

  O ADEUS nos mostra que a vida segue seu caminho e que fomos alegres na rotina, nem sempre o novo traz coisas melhores do que já temos ou tivemos.

  Não tenha tanta ansiedade pelo novo, pelo diferente, cuide das páginas de sua vida que ainda não foram arrancadas…

CARPE DIEM!


Geny Rodriguez



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