domingo, 19 de maio de 2013

Pessoa Melhor

   “Nós poderíamos ser muito melhores se não quiséssemos ser tão bons.”
 [Freud]



  Gostava de ver aqueles filmes de faroeste pela objetividade dos diálogos.

Joe: - Porque você bateu naquele cara?

Phil: “- Ele chamou nossa mãe de prostituta.”

Joe:  - Mas nossa mãe era prostituta…

😆

   Vejo pessoas que tem uma vergonha danada de serem pobres, realmente a pobreza é algo bem desagradável, mas não tem lógica ter vergonha dela.

  Lembro de um colega de escola que ao ver meu tênis todo furado embaixo me disse:
  “Nossa como você é pobre”, eu simplesmente repliquei, “grande novidade”.
  Não via nenhuma vantagem em esconder minha situação, percebi logo cedo que só me traria mais problemas.
  E me envergonhar do quê!?
  Eu nasci em família pobre, se pudesse escolher gostaria que meus pais fossem pelo menos classe média.

  Claro que houve situações traumáticas, vejam uma inesquecível.

  Uma colega de escola ficou de recuperação, queria aulas particulares na minha casa.
  Caraca! 
  Minha casa não era algo que eu queria que ela visse.
  Me propus a ir dar aula na casa dela. 
  Acontece que sua casa ficava longe, era necessário tomar ônibus ou andar muitos quilômetros.
  Eu morava no São Bernardo ela no Santa Lucia.
  Com vergonha da minha casa, camelei igual um condenado arranjando uns trocados para o ônibus ou caminhando quilômetros.
  A menina morava em uma casa de “frente”, linda.
  Como naquela cena de "E O Vento Levou" decidi que aquela menina nunca iria na minha casa, mas conhecem aquele seriado “Todo mundo odeia o Cris”?
  Eu me vejo tanto naquele rapaz, com uma grande diferença, a casa dele era bem melhor que a minha...😊😆
    
  Meu pai também não tinha dois empregos, isso não melhorava em nada as coisas.
  Nessa época meu pai não tinha emprego nem morava conosco, na pratica eu nem tinha pai.

  Depois de umas 10 aulas particulares “pagando penitência” estava tudo acabado, sofri, mas tive sucesso na minha decisão…

  Isso é o que eu desejava, mas sabem o que aconteceu?

  No dia da prova a garota queria uma última revisão.
  O colégio era o Vitor Meirelles bem perto de casa ... não tinha nenhuma desculpa razoável para recusar sua vinda.
  Alem do mais foi um telefonema inesperado na casa da minha vó, me pegou totalmente desprevenido. 
  Era um período chuvoso, sabe quando durante cerca de duas semanas chove quase todo dia?
  A casa construída no quintal da minha vó Tidi com ajuda de "vicentinos" e salario de faxineira da minha mãe ... tinha goteiras que não acabavam mais.
  O quintal era de terra, 6 pessoas morando em 3 cômodos, a casa estava mais encardida que nunca, cheirando mofo.

  Imaginem meu constrangimento ao receber aquela "princesa" morena de olhos incrivelmente azuis e corpo escultural na minha "humilde residencia".
  "Acho" que o nome era Silvia Helena.

  É, podem cantar aquela musiquinha… todo mundo odeia o William.

  O texto ficaria longo se eu entrasse em detalhes, mas tem um que parece escrito por ... Satanás 😆
  Minha mãe tinha comprado um tapete que só era colocado para receber visitas.
  O tapete cobria o chão irregular e esburacado revestido com "vermelhão".
  (Um pigmento que misturado ao cimento o tornava vermelho)
  Eu estava com a garota dando aula na sala.
  Minha mãe voltava do trabalho e obviamente não sabia que tinha visita.
  Antes de entrar na casa ela avistou o tapete colocado.
  Já entrou falando um monte.
  Quem naquele dia chuvoso, com o quintal cheio de barro, colocou aquele tapete ali...
  Quando ela viu que tinha visita ... já era tarde ... minha vontade era ser desintegrado ali mesmo.

  No filme é engraçado, depois de anos é engraçado, mas fico feliz das minhas filhas não viverem a mesma situação.

  Desisti de querer "parecer melhor que sou", não estou ficando melhor, só mais velho, não vou engana-los, não vou me enganar, não vejo LÓGICA.

“Nós poderíamos ser muito melhores se não quiséssemos ser tão bons.”














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