“A sabedoria não nos é
dada.
É preciso descobri-la
por nós mesmos, depois de uma viagem que ninguém nos pode poupar ou fazer por
nós.”
[Marcel Proust]
Gosto de me
sentir um “super macho”, pena que não escolhemos o que sentir.
Nas manhãs de
Domingo enquanto milhões de pessoas vão a cultos e missas eu faço uma longa
caminhada.
Em média dura 2
horas, o tempo de um culto ou de uma missa.
Mas uma caminhada
comum qualquer macho faria então para me sentir um super macho coloco pesos de 1
kg em cada perna.
Até chegar a isso
houve várias etapas de adaptação, lembro que a primeira vez que decidi usar
pesos comprei de meio quilo, depois de uns 3 km tive que tira-los das pernas e
voltar para casa os carregando na mão, a dificuldade era tanta que quem me
visse pensaria que estava com problemas intestinais. 😄
Quando atingi o
que queria atingir (caminhar por duas horas com peso de 1 quilo nas pernas)
surgiu um grande problema o TÉDIO.
O que fazer?
Caminhar por 3
horas, aumentar o peso das pernas?
Pesquisei e
cheguei à conclusão que colocar mais de 1 quilo poderia prejudicar minhas
articulações no futuro, evidente que não queria isso.
Aumentar o tempo ... não queria passar
mais de duas horas do meu dia andando.
A solução foi
ouvir música.
A música é feita
de poucas notas em diferentes tons que se repetem em combinações infinitas, um
fascinante tipo de fractal.
Já no começo senti
bons resultados.
Uma coisa
interessante é como ouvir música mudou desde que comecei a fazer caminhadas na década
de 90.
O primeiro
aparelho foi um mini radio, ia caminhando, mudando as estações, ouvindo o que tocasse.
Depois comprei um
walkman, tinha rádio e podia levar uma fita cassete com 1 hora de música.
(Levar duas fitas considerava exagero e mais um
item para carregar).
Surgiram os Laser
Disk portáteis, mas os que tinham radio eram caros para meu padrão de vida,
nunca comprei.
Na fita K7 podia
gravar 1 hora de músicas que eu gostava, no Laser Disk ouvia o que tinha.
É a mesma coisa
do vinil, a gente pagava 12 músicas, mas só gostávamos de 2 ou 3.
Eu teria que
levar vários CDs e ficar trocando durante a caminhada, seria ineficiente e desagradável.
Com o passar do
tempo gravar CDs em casa começou a ficar fácil, mas também começou a surgir o
MP3.
Graças ao “capitalismo”
que com sua necessidade de inovação nos trouxe o MP3, eu não preciso mais ouvir
o que a radio quer tocar, tenho liberdade para ouvir só as músicas que me
agradam e numa quantidade absurda, não fiz as contas, mas no pequeno MP3 deve
ter umas 4 horas de música.
Finalmente quando
estou caminhando me sinto um super macho, acordo bem cedo antes do Sol surgir.
Durante a
caminhada embalado pela música surgem em minha mente textos maravilhosos, a
beleza se faz presente em todas as coisas do caminho, não sinto frio, não sinto
calor, o corpo parece indestrutível e a mente não sabe o que é o tédio ou o
vazio.
O Sol vai
surgindo e com sua luz realçando os brilhos e as cores tudo a minha volta
aparece como magníficos fractais, um momento sublime que talvez as pessoas
sintam nos cultos e nas missas…
Mas sabem como é
não escolhemos o que sentimos, o cansaço vem, a caminhada acaba, tem que
acabar, tenho os afazeres do dia a dia, na maior parte da semana tenho que
trabalhar, o calor exauri minhas forças a falta de lógica das pessoas entedia
minha mente e eu volto a ser William, um ser cansado e entediado.
Não escolhemos o
que sentir, mas se eu pudesse escolher, escolheria me sentir poderoso 16 horas
por dia e as 8 horas restantes dormir e não pensar em mais nada, nem sonho
queria ter.
Para que eu
usaria esse poder?
As possibilidades
são infinitas, já seria algo maravilhoso ser um cara menos chato.
Ontem
[21/04/2011] estive em uma bela festa de casamento do meu sobrinho Lendel com a
adorável Natália desejo muitos momentos felizes ao casal, uma vida longa e
próspera.
Meus familiares
como sempre reclamam da minha reclusão, se eles me conhecessem melhor iriam
agradecer, eu gostaria de ser um super macho, mas o que sou mesmo é um super
chato.
Para minha mãe
que me conhece bem eu não consigo disfarçar, ela vive falando “como esse Robson
é chato”, quando minha mãe está certa…ela está certa.
Minha esposa e
filhas, acabaram se acostumando com meu jeito, já não cobram tanto que eu mude.
E assim vou caminhando,
pelas ruas, pela vida, “uma viagem que
ninguém nos pode poupar ou fazer por nós.”
Atenção: Em 2016 começaram aparecer manchas escuras nas minhas
pernas.
A primeira suspeita
foi de algum problema vascular, mas depois de vários exames nada foi constatado.
Chegou-se à
conclusão que o uso prolongado de pesos nos pés estava rompendo vasos sanguíneos.
NÃO FAÇA O QUE EU
FIZ!
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