quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Caminhada

  “A sabedoria não nos é dada.
   É preciso descobri-la por nós mesmos, depois de uma viagem que ninguém nos pode poupar ou fazer por nós.”
 [Marcel Proust]

  Gosto de me sentir um “super macho”, pena que não escolhemos o que sentir.
  Nas manhãs de Domingo enquanto milhões de pessoas vão a cultos e missas eu faço uma longa caminhada.
  Em média dura 2 horas, o tempo de um culto ou de uma missa.
  Mas uma caminhada comum qualquer macho faria então para me sentir um super macho coloco pesos de 1 kg em cada perna.
  Até chegar a isso houve várias etapas de adaptação, lembro que a primeira vez que decidi usar pesos comprei de meio quilo, depois de uns 3 km tive que tira-los das pernas e voltar para casa os carregando na mão, a dificuldade era tanta que quem me visse pensaria que estava com problemas intestinais. 😄
  Quando atingi o que queria atingir (caminhar por duas horas com peso de 1 quilo nas pernas) surgiu um grande problema o TÉDIO.
  O que fazer?
  Caminhar por 3 horas, aumentar o peso das pernas?
  Pesquisei e cheguei à conclusão que colocar mais de 1 quilo poderia prejudicar minhas articulações no futuro, evidente que não queria isso.
  Aumentar o tempo ... não queria passar mais de duas horas do meu dia andando.

  A solução foi ouvir música.
  A música é feita de poucas notas em diferentes tons que se repetem em combinações infinitas, um fascinante tipo de fractal.

  Já no começo senti bons resultados.

  Uma coisa interessante é como ouvir música mudou desde que comecei a fazer caminhadas na década de 90.

  O primeiro aparelho foi um mini radio, ia caminhando, mudando as estações, ouvindo o que tocasse.

  Depois comprei um walkman, tinha rádio e podia levar uma fita cassete com 1 hora de música.
 (Levar duas fitas considerava exagero e mais um item para carregar).

  Surgiram os Laser Disk portáteis, mas os que tinham radio eram caros para meu padrão de vida, nunca comprei.
  Na fita K7 podia gravar 1 hora de músicas que eu gostava, no Laser Disk ouvia o que tinha.
  É a mesma coisa do vinil, a gente pagava 12 músicas, mas só gostávamos de 2 ou 3.
  Eu teria que levar vários CDs e ficar trocando durante a caminhada, seria ineficiente e desagradável.
  Com o passar do tempo gravar CDs em casa começou a ficar fácil, mas também começou a surgir o MP3.
  Graças ao “capitalismo” que com sua necessidade de inovação nos trouxe o MP3, eu não preciso mais ouvir o que a radio quer tocar, tenho liberdade para ouvir só as músicas que me agradam e numa quantidade absurda, não fiz as contas, mas no pequeno MP3 deve ter umas 4 horas de música.

  Finalmente quando estou caminhando me sinto um super macho, acordo bem cedo antes do Sol surgir.
  Durante a caminhada embalado pela música surgem em minha mente textos maravilhosos, a beleza se faz presente em todas as coisas do caminho, não sinto frio, não sinto calor, o corpo parece indestrutível e a mente não sabe o que é o tédio ou o vazio.
  O Sol vai surgindo e com sua luz realçando os brilhos e as cores tudo a minha volta aparece como magníficos fractais, um momento sublime que talvez as pessoas sintam nos cultos e nas missas…

   Mas sabem como é não escolhemos o que sentimos, o cansaço vem, a caminhada acaba, tem que acabar, tenho os afazeres do dia a dia, na maior parte da semana tenho que trabalhar, o calor exauri minhas forças a falta de lógica das pessoas entedia minha mente e eu volto a ser William, um ser cansado e entediado.
  
  Não escolhemos o que sentir, mas se eu pudesse escolher, escolheria me sentir poderoso 16 horas por dia e as 8 horas restantes dormir e não pensar em mais nada, nem sonho queria ter.
  Para que eu usaria esse poder?
  As possibilidades são infinitas, já seria algo maravilhoso ser um cara menos chato.
  Ontem [21/04/2011] estive em uma bela festa de casamento do meu sobrinho Lendel com a adorável Natália desejo muitos momentos felizes ao casal, uma vida longa e próspera.

  Meus familiares como sempre reclamam da minha reclusão, se eles me conhecessem melhor iriam agradecer, eu gostaria de ser um super macho, mas o que sou mesmo é um super chato.
  Para minha mãe que me conhece bem eu não consigo disfarçar, ela vive falando “como esse Robson é chato”, quando minha mãe está certa…ela está certa.
  Minha esposa e filhas, acabaram se acostumando com meu jeito, já não cobram tanto que eu mude.

  E assim vou caminhando, pelas ruas, pela vida, “uma viagem que ninguém nos pode poupar ou fazer por nós.”



Atenção: Em 2016 começaram aparecer manchas escuras nas minhas pernas.
  A primeira suspeita foi de algum problema vascular, mas depois de vários exames nada foi constatado.
  Chegou-se à conclusão que o uso prolongado de pesos nos pés estava rompendo vasos sanguíneos.
  NÃO FAÇA O QUE EU FIZ!


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