terça-feira, 29 de outubro de 2013

Buscando a Beleza

  “Aquilo que de fato os homens querem não é o conhecimento, mas a certeza.”
[Bertrand Russel]

  Se eu perguntar para minha filha de 10 anos quanto é 2+2 ela dirá satisfeita que é 4.

  Se eu perguntar qual a raiz quadrada de 2 a resposta não virá tão fácil.
  Ela ainda não gravou esse número na memória.
  Quantas pessoas lembram de como conseguir a raiz de 2 sem usar a calculadora?

   



  Minha filha confia em mim, se eu disser que raiz de 2 não existe essa “verdade” a deixará satisfeita.

  Minha filha só conhece os números Naturais então no universo conhecido dela eu não estaria mentindo, assim construímos um bom SOFISMA.
  Se eu disser que é 1 ela também ficará satisfeita, também não estarei mentindo, no universo de números que ela conhece o 1 é o resultado mais próximo.

  Russel está nos dizendo que minha filha ficou SATISFEITA com a CERTEZA que eu dei a ela mesmo que na REALIDADE o resultado não seja “satisfatório”.

  Se eu ensinar minha filha como extrair a raiz quadrada ela provavelmente irá achar chato e trabalhoso, mas se eu mostrar como conseguir na calculadora ficará satisfeita.

  Percebem que eu posso deixar minha filha satisfeita de várias maneiras e transmitir um conhecimento seria a “menos legal” delas?
  Claro que muitas mentes já vibram na frequência de adquirir conhecimento, mas a maioria quer tudo mastigadinho, não querem o trabalho de pensar, entender o mecanismo.

  Por isso essa utopia de tantos “educadores” de transformar o aprendizado escolar sempre em prazer é desperdício de energia.

  Passo para minhas filhas que estudar é uma NECESSIDADE, não um passeio encantado pelo mundo do conhecimento.
  Alguns aprendizados irão gostar porque é do interesse delas, outros são necessários para exercitar seus cérebros, descobrir novas habilidades ou até descobrir o que não gostam.
  Isso torna menos complicado decidir que caminho profissional irão seguir na vida adulta.

  Escola não é diversão, professor não é animador de auditório, minhas filhas tem noção que tem hora para brincar, mas escola É COISA SÉRIA.

  Era cansativo, mas eu gostei de aprender a extrair raiz, aqueles cálculos apareciam em minha mente como um labirinto e o resultado era o portal de saída, o vencer o jogo.
  Não lembro mais como fazer, teria que localizar o método em algum livro de matemática, mas adquirir aquele conhecimento mudou alguma coisa em meu cérebro, não sei como explicar, vou tentar:

  Conheci o universo das raízes em suas entranhas, quando escuto as palavras raiz quadrada um portal se abre para um universo com infinitas possibilidades.
  Para minha filha que não adquiriu esse conhecimento a raiz é só um palavra que a faz pensar em arvore.
  Se eu disser que a raiz de 2 é 1,414, é apenas neste número que ela irá pensar, não surgem os portais.
  Ela está satisfeita com essa certeza que eu lhe dei.

  As pessoas querem a certeza, dispensam o conhecimento/duvida e com isto dispensam inúmeras POSSIBILIDADES.

  Posso dizer por exemplo que conheço religiões, várias correntes delas, então escrevo textos, monto e desmonto teorias das mais diversas maneiras.
  Uma pessoa que conhece apenas a religião que frequenta, herdada as vezes por TRADIÇÃO, tem uma certeza extremamente limitadora, mas sem dúvida nenhuma... bem mais confortável.

  A Fé lhe garante uma certeza que dispensa o conhecimento.

  “Se fizer isso será salvo, se fizer aquilo será punido.”

  Essa uma certeza que a faz sentir bem.
  Não precisa saber porque pode ou não pode fazer, é assim porque é assim.

  Logo, quando adquirimos conhecimento as palavras abrem portais para universos tanto paralelos quanto os que se interceptam, qual a vantagem disso? Qual a importância disto?
  NÃO SEI.
  Mas se ficássemos satisfeitos apenas em andar jamais desenvolveríamos a roda.
  Se não tivesse a roda deixaríamos de viver?
  Claro que não, mas acredito que a vida ficou melhor com o desenvolvimento da roda.

  Isso não serve só para ciência, mas também para artes.

  Michelangelo quando olhava uma pedra de mármore, tirava os “excessos” e nos revelava figuras, a pedra de mármore de certo era bonita, mas a figura revelada era magnifica.

  O conhecimento, o desenvolvimento de nossas habilidades nos revela maiores possibilidades ou simplesmente beleza.

  Tudo começa simples, tosco, mas buscar conhecimento ampliou muito meu entendimento das coisas e a percepção da beleza...

  



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