sábado, 5 de abril de 2014

Ajuda ao Próximo

   “Ninguém pode achar que falhou na sua missão neste mundo, se aliviou o fardo de outra pessoa.” 
            [Charles Dickens]

  Esse pensamento é BONITO, mas filosoficamente deixa muitas brechas, nem todas tão “simpáticas”.

  Primeiro é preciso acreditar que temos alguma missão nesse mundo, não somos fruto de mero acaso.

  E mesmo aceitando a hipótese … qual seria essa missão!?

  Ajudar ao próximo?

  Minha infância e adolescência foram bem pobres, não tinha nem para minha família imaginem ajudar alguém.
  Sei que ajudar não se resume a dar dinheiro ou algum bem material.
  Como eu era bom nos estudos ensinava colegas com maior dificuldade.
  Falava palavras de ânimo, dava “apoio moral” a quem precisava.
  Em termos de ajudar ao próximo era o possível de fazer.
  Defender os mais fracos fisicamente?
  Eu era tão magricela, só se fosse para apanhar junto.
  O bairro que eu morava agora está mais tranquilo, mas na minha infância tinha muito marginal, gente para se manter distância.
  Quando alcancei alguma estabilidade financeira comecei a fazer muita caridade.
  (Dentro das minhas possibilidades)
  Parte do meu salário era destinada a isso.
  Ajuda direta ou via igreja (Centro Kardecista).

  Depois aconteceu uma fase tão difícil em minha vida que me tornou receoso de ajudar outros e faltar pra mim mais tarde.
  Até então eu tinha fé em alguma proteção.
  Sócrates dizia:

  “Nada de mal pode acontecer a um homem bom.”

  Pode sim.
  Já vi muita gente boa perder tudo e depender da caridade de outros ou ter que suportar coisas muito desagradáveis para sobreviver.

  A caridade financeira que faço atualmente, se comparada com o passado é mínima.
  Não tem nada programado ou no automático.
  Vai do momento e da minha disponibilidade de dinheiro, nada muito volumoso, literalmente alguns trocados ou doação de roupa e alimento.

  Passei a me preocupar muito com minha situação financeira na velhice.

  Faz tempo que não empresto dinheiro a ninguém.
  Acho incrível que a pessoa pague juros de 20% ao agiota, 10% no cartão, juros em média de 4% no empréstimo pessoal e para eu que emprestava sem cobrar juro nenhum ela NÃO PAGUE!
  Por vezes paga com meses de atraso e ainda acha que está te fazendo um grande favor!

  Certa vez um colega pediu 50 reais emprestados, disse que assim que recebesse o pagamento me devolveria (faltavam 5 dias).
  Nessa época eu ficava alegre em ser útil, poder ajudar as pessoas, fiquei um pouco chateado, mas não liguei muito em receber o dinheiro mais de 2 meses depois.
  Olha o que aconteceu.
  Ele disse que tinha uma nota de 50, mas “teve” que comprar pão na padaria de forma que me pagou 45 reais.
  Os 5 reais faltantes nunca mais tocou no assunto.
  Percebem?
  Eu emprestei 50 reais e como ele é um cara muito legal depois de 2 meses me cobrou só 10% de juros!!!

  Uma meditação filosófica capitalista 😊 me ajudou a entender que meu colega por incrível que pareça tinha um procedimento lógico.

  Existe essa parte da sociedade ávida por ser útil, por ajudar as pessoas, existe essa” demanda de mercado” a qual eu me incluía.

  Eu fiquei alegre em realizar aquela boa ação?
  Logo, meu colega de uma certa maneira me permitiu ficar alegre, realizar a boa ação daquele dia, me comportar como um legítimo filho de Deus, um bom Cristão.

  Percebemos que existe um grupo da sociedade que tomou para si como missão salvar o mundo ... “fazer o bem sem olhar a quem.”

  Outro grupo percebendo esse “mercado” se coloca na confortável condição de serem salvos pelo mundo, são responsabilidade da sociedade e a sociedade que se vire para dar a eles tudo que precisem.
  Exemplos:

💣 Essas pessoas tem quantos filhos quiserem e a sociedade que se vire para cria-los.

💣 Essas pessoas tem pavio curto, já nasceram assim e a sociedade que se vire para cura-las, se cometem crimes é culpa da sociedade que não soube dar o tratamento que elas precisavam.

💣 Não é culpa delas se viciam fácil em qualquer coisa, a sociedade que se vire para não deixar que o vício chegue até elas e em chegando que se vire para sustenta-las e trata-las.

  Eu nunca estive no grupo dos que esperam tudo do Estado/Sociedade.
  E resolvi sair do grupo que elegeu como missão “ajudar ao próximo.”

  Estou em equilíbrio.
  A prioridade é cuidar de mim e da minha família.

  Acredito que se cada cidadão civilizadamente cuidasse de si mesmo e de sua família a caridade seria algo até dispensável, só precisaria ser exercida em caso de tragédias, acidentes que não temos muito controle.

  Ainda gosto de ajudar as pessoas, mas não gosto de me sentir otário.
 Não faço mais parte do grupo que fica alegre em carregar nas costas as dores do mundo.







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