“Ninguém pode achar que
falhou na sua missão neste mundo, se aliviou o fardo de outra pessoa.”
[Charles
Dickens]
Esse pensamento é BONITO,
mas filosoficamente deixa muitas brechas, nem todas tão “simpáticas”.
Primeiro é preciso acreditar que temos alguma
missão nesse mundo, não somos fruto de mero acaso.
E mesmo aceitando a hipótese … qual seria
essa missão!?
Ajudar ao próximo?
Minha infância e adolescência foram bem
pobres, não tinha nem para minha família imaginem ajudar alguém.
Sei que ajudar não se resume a dar dinheiro
ou algum bem material.
Como eu era bom nos estudos ensinava colegas
com maior dificuldade.
Falava palavras de ânimo, dava “apoio moral”
a quem precisava.
Em termos de ajudar ao próximo era o possível
de fazer.
Defender os mais fracos fisicamente?
Eu era tão magricela, só se fosse para
apanhar junto.
O bairro que eu morava agora está mais
tranquilo, mas na minha infância tinha muito marginal, gente para se manter
distância.
Quando alcancei alguma estabilidade
financeira comecei a fazer muita caridade.
(Dentro das minhas possibilidades)
Parte do meu salário era destinada a isso.
Ajuda direta ou via igreja (Centro
Kardecista).
Depois aconteceu uma fase tão difícil em
minha vida que me tornou receoso de ajudar outros e faltar pra mim mais tarde.
Até então eu tinha fé em alguma proteção.
Sócrates dizia:
“Nada de mal
pode acontecer a um homem bom.”
Pode sim.
Já vi muita gente boa perder tudo e depender
da caridade de outros ou ter que suportar coisas muito desagradáveis para
sobreviver.
A caridade financeira que faço atualmente, se
comparada com o passado é mínima.
Não tem nada programado ou no automático.
Vai do momento e da minha disponibilidade de
dinheiro, nada muito volumoso, literalmente alguns trocados ou doação de roupa
e alimento.
Passei
a me preocupar muito com minha situação financeira na velhice.
Faz tempo que não empresto dinheiro a
ninguém.
Acho incrível que a pessoa pague juros de 20%
ao agiota, 10% no cartão, juros em média de 4% no empréstimo pessoal e para eu
que emprestava sem cobrar juro nenhum ela NÃO PAGUE!
Por vezes paga com meses de atraso e ainda
acha que está te fazendo um grande favor!
Certa vez um colega pediu 50 reais
emprestados, disse que assim que recebesse o pagamento me devolveria (faltavam
5 dias).
Nessa época eu ficava alegre em ser útil,
poder ajudar as pessoas, fiquei um pouco chateado, mas não liguei muito em
receber o dinheiro mais de 2 meses depois.
Olha o que aconteceu.
Ele disse que tinha uma nota de 50, mas
“teve” que comprar pão na padaria de forma que me pagou 45 reais.
Os 5 reais faltantes nunca mais tocou no
assunto.
Percebem?
Eu emprestei 50 reais e como ele é um cara
muito legal depois de 2 meses me cobrou só 10% de juros!!!
Uma meditação filosófica capitalista 😊 me ajudou a
entender que meu colega por incrível que pareça tinha um procedimento lógico.
Existe essa parte da sociedade ávida por ser
útil, por ajudar as pessoas, existe essa” demanda de mercado” a qual eu me
incluía.
Eu fiquei alegre em realizar aquela boa ação?
Logo, meu colega de uma certa maneira me
permitiu ficar alegre, realizar a boa ação daquele dia, me comportar como um
legítimo filho de Deus, um bom Cristão.
Percebemos que existe um grupo da sociedade
que tomou para si como missão salvar o mundo ... “fazer o bem sem olhar a quem.”
Outro grupo percebendo esse “mercado” se
coloca na confortável condição de serem salvos pelo mundo, são
responsabilidade da sociedade e a sociedade que se vire para dar a eles tudo
que precisem.
Exemplos:
💣 Essas pessoas tem quantos filhos
quiserem e a sociedade que se vire para cria-los.
💣 Essas pessoas tem pavio curto, já
nasceram assim e a sociedade que se vire para cura-las, se cometem crimes é
culpa da sociedade que não soube dar o tratamento que elas precisavam.
💣 Não é culpa delas se viciam fácil
em qualquer coisa, a sociedade que se vire para não deixar que o vício chegue
até elas e em chegando que se vire para sustenta-las e trata-las.
Eu
nunca estive no grupo dos que esperam tudo do Estado/Sociedade.
E resolvi sair do grupo que elegeu como
missão “ajudar ao próximo.”
Estou em equilíbrio.
A prioridade é cuidar de mim e da minha família.
Acredito que se cada cidadão civilizadamente
cuidasse de si mesmo e de sua família a caridade seria algo até dispensável, só
precisaria ser exercida em caso de tragédias, acidentes que não temos muito
controle.
Ainda gosto de ajudar as pessoas, mas não
gosto de me sentir otário.
Não faço mais parte do grupo que fica alegre
em carregar nas costas as dores do mundo.
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